Lindíssimo este video.
O testemunho de um colega, Rui Daniel da Silva, sobre o país.
E um dia vou lá eu e depois conto-vos 😉
“Com a moeda desvalorizada e uma inflação galopante (alguns preços duplicaram no espaço de um ano), muitas famílias iranianas estão em sérias dificuldade. A crise parece ter chegado ao Irão.
Tenho visto homens a remexer no lixo à procura de comida e mais pedintes que o habitual nas várias cidades por onde tenho passado. Mas foi um encontro com uma criança que mais me marou.
Era noite. Atravessava a ponte Si-o-Seh, em Esfahan, quando me tocaram na perna. Era uma menina de olhar triste, não teria mais que 5 anos, e trazia nas mãos algo para vender. Talvez fossem lenços ou pensos, seguramente algo de pouco valor. Os pais estariam nas proximidades, mas não os consegui ver.
Baixei-me e disse que não suavemente, ela insistiu impávida e serena, pronunciando apenas uma palavra em farsi que não entendi; voltei a dizer que não. Repetimos este diálogo várias vezes, calmamente, como se estivéssemos a testar a paciência um do outro.
Frente a frente, de cócoras para que ficássemos cara a cara e a olhasse sem ser de cima para baixo, só me lembrava da minha filha.
Ela não desistia.
Levantei-me e comecei a caminhar. A menina deu uns passos de petiza e colocou-se de novo à minha frente. Estava decidida. E triste. Fosse um adulto e teria levado um encontrão. Mas era uma menina da idade da minha filha.
De novo me baixei e recomeçamos o diálogo da paciência. Por 3 ou 4 vezes repetimos esta “luta”: ela queria vender, eu queria ajudá-la a simplesmente ser criança.
É um dilema antigo. Tinha vontade de comprar tudo o que a menina trazia na mão para que ela pudesse ir para casa brincar, dormir ou simplesmente sorrir. Mas fazê-lo seria contribuir para que nas próximas noites ela fosse de novo impelida para as ruas pelos seus pais. Por mais contraditório que possa parecer, a melhor forma de a ajudar era não ceder. Não comprar. Para que nas próximas noites pudesse ficar em casa a brincar, a dormir, a ser, enfim, uma menina de 5 anos.
Depois de alguns minutos que pareceram uma eternidade, a menina dirigiu-se por uns segundos a outras pessoas que passaram ao nosso lado. Aproveitei a “distração” e continuei a caminhar. Olhei para trás e “vi” a minha filha a vender lenços ou pensos aos transeuntes da Si-o-Seh Pol.
E não contive uma lágrima de tristeza, de raiva, de desespero.”
Este senhor chama-se Tom Burgett, tem 70 anos, e encontra-se fechado em casa pois está na fase final de uma doença pulmonar crónica. O Tom tem medo de se fechar em casa e deixar de conhecer o mundo, por isso contactou a Wish of a Lifetime, o desejo do Tom é muito simples, ele gosta de conhecer novas culturas e pessoas, pede que quem possa lhe envie um postal, ele acha, eu concordo, que ao receber os postais com paisagens/cidades visita-os no seu coração e na sua mente.
Não custa mesmo nada dar uma alegria a este senhor, quem possa envie mais que um, fale da cultura, das pessoas, vamos ajudar este senhor a ter uns últimos dias mais felizes.
Os postais devem ser endereçados da seguinte forma:
Wish of a Lifetime
Attn: Tom Burgett
1821 Blake St. Suite 200
Denver, CO 80202
Quem estiver interessado visite o site da Wish of a Lifetime, uma instituição de caridade vocacionada para proporcionar sonhos de uma vida aos cidadãos séniores, vale a pena espreitar 😉
As filas para visitar a Sagres, que é de longe o navio mais bonito e bem cuidado de todo o conjunto, demoram horas, mas mesmo assim dei por bem empregue o meu tempo.
O Creoula estacionado a seu lado parece um anãozinho pequenino perto do gigante Sagres.
No Sagres, a tripulação também come melhor que no Creoula, da cozinha vinha um cheiro formidável, que vim a saber ser de um Arroz à Valênciana, enquanto no Creoula a cozinha cheirava a cantina, coitados….
Triste sina tem o Mir, um navio Russo, que foi transformado em loja de souveniers e até tem uma caixa de donativos à saída. Está ferrugento, com fios eléctricos à solta, mas por fora é bonito e imponente.
Fiquei com pena de não ter visitado o Lord Nelson, mas tem uma hora muito curtinha de visita diária, os navios polacos também já estavam fechados mas fiquei com vontade de os visitar.
A boa noticia veio do Bark Europa que permite que nos inscrevamos, e presumo que paguemos bem, para viajar nele, como marinheiros atenção, para destinos como a Antárctica, no próximo ano Austrália e Nova Zelândia ou até fazer a próxima Tall Ships Race.
No próximo domingo zarpam para novos destinos mas quem quiser vê-los desfilar no Tejo pode fazê-lo entre as 14 e as 15.
Aconselho-vos vivamente a ler o texto que se segue, espero que um dia quando tiver filhos lhes possa oferecer esta fantástica prenda que o Filipe Morato Gomes e a Luisa Pinto estão a oferecer à sua filhota, a bagagem cultural, a abertura de espirito, que esta criança vai trazer para casa é o melhor presente que estes pais lhe podiam ter oferecido.
“Ontem foi Dia Mundial da Criança e o Diário da Pikitim assinala a data com uma crónica diferente do habitual. A propósito do dia que recorda o direito das crianças serem crianças, fazemos uma espécie de balanço com pupilas de pais que observam a evolução da sua filha numa vida em movimento constante pelas estradas deste mundo. Um texto – mais que todos os outros – dedicado à criança tão especial que nos acompanha na pele de nómadas dos tempos modernos.
É um ano diferente, este. Especialmente para a Pikitim. O seu Jardim-Escola está longe, apesar de ela acompanhar os conteúdos leccionados à sua turma fazendo uma ficha de trabalho todos os dias úteis. É assim, aliás, que vai sabendo em que dia da semana está. “Hoje é sábado, mãe? Então não preciso de trabalhar”, relembra, semanalmente. De segunda a sexta, abastece-se de todo esse indispensável conhecimento “curricular” que a acompanhará vida fora. Mas em todos os sete dias da semana, outras não menos importantes aprendizagens lhe são proporcionadas pelas experiências vividas nesta viagem, ela própria uma “escola de mundo e de vida”, nas palavras do diretor do Jardim-Escola da Pikitim. E isso é coisa que já se nota nas atitudes da petiza.
Nestes primeiros meses de volta ao mundo, e de contacto intenso e ininterrupto entre pais e filha, nota-se que a Pikitim cresceu. Muito. Não só fisicamente, como é normal da idade, mas também ao nível da maturidade afetiva e do conhecimento do mundo e da vida. A viagem está a fazer-lhe bem. Claramente. A abrir-lhe horizontes para um futuro risonho e sem preconceitos.
Desde que partimos, a Pikitim já viu gente de diversas raças, muitos países e paisagens, várias línguas, diferentes graus de conforto, a pobreza e a riqueza, a dureza do trabalho (ela deixou-se sensibilizar, por exemplo, pela árdua labuta nos arrozais de Bali). Já vivenciou alguma multiplicidade cultural e conviveu com a diversidade religiosa. Experimentou comer com pauzinhos e com as mãos, adorou pintar e vestir sarongs, aprendeu a descalçar-se para entrar em casas ou templos e até a respeitar um longo dia de silêncio imposto pelo calendário balinês. Com a mesma naturalidade de quem está a brincar com as suas Polly Pocket, a jogar às cartas ou a fazer um desenho para enviar para as avós, os amigos ou os professores e colegas do Jardim-Escola.
Esta viagem tem tido, pois, momentos irrepetíveis, protagonizados pela curiosidade, ingenuidade e imaginação que só uma criança consegue ter. Um teleférico é facilmente visto como um pé de feijão gigante e uma torre de telecomunicações pode ser, afinal, a casa onde vive Rapunzel. Da mesma forma que os milhares de peixes coloridos encontrados nos mares asiáticos perdem todo o protagonismo para um único peixe-palhaço, por causa deNemo. E assim o mundo real se adapta ao universo da fantasia infantil.
Estamos certos que, se fosse pedido à Pikitim para fazer um pequeno balanço do que têm sido os primeiros meses desta viagem, ela diria que a experiência tem sido “maravilhosa”. É uma palavra que emprega com alguma facilidade desde que iniciámos a viagem. Porque anda feliz.
Sabe reconhecer “lugares incríveis” como os que encontrou no arquipélago Bacuit, nas Filipinas, e apreciar as brincadeiras proporcionadas por duas visitas ao Museu Pambata, na capital Manila. E guarda a ilha tailandesa de Koh Muk no coração, como um dos seus lugares preferidos porque, apesar de estar meio adoentada, foi onde conheceu Lincoln, um menino britânico-tailandês de três anos, a sua primeira grande amizade na estrada.
Pela mesma razão – a de ter amigos por perto -, a Pikitim não tem dúvidas em afirmar que o seu lugar preferido foi Langkawi. Porque partilhou quase todos os momentos na ilha malaia com a portuguesa Margarida, sensivelmente da sua idade, de quem se tornou amiga inseparável. Ao rol de amigos que fez nesta viagem, deve ainda juntar-se a holandesa Astrid, de cinquenta e muitos anos, que conheceu na ilha de Palawan e adotou como mãe, amiga, irmã – nunca saberemos! -, e os irmãos Latif e Najwa, com quem correu atrás de cabras e galinhas numa aldeia perto de Borobudur, na ilha indonésia de Java.
Com a Margarida foi fácil brincar; com os outros, havia a barreira da língua que, aos poucos, procurou ultrapassar. Começou com gestos, depois umas palavras a medo e, por agora, já consegue responder a perguntas básicas em inglês. E é lindo ver tudo isso acontecer tão rapidamente. Fazer com que ela aprenda a falar algumas palavras na língua local – olá, obrigado – tem sido uma das nossas preocupações, e é comum encontrá-la a falar sozinha (perdão, com os seus bonecos e os seus botões!) numa língua imaginária, onde se percebem algumas palavras em inglês, malaio ou tailandês.
E para nós, pais, como tem sido a experiência? Tem sido fantástico ver o mundo pelos olhos de uma criança e aprender com ela. Porque é a sua curiosidade infantil que, muitas vezes, nos obriga a procurar respostas. Porque está sempre a surpreender-nos com a sua perspicácia, com a sua atenção, com a sua sede de saber. E porque tem sido gratificante voltarmos a ser crianças para participar nas brincadeiras que ela inventa e entrar num mundo de faz-de-conta cada vez mais elaborado.
No entanto, apesar de tudo estar a ser “maravilhoso”, não há dúvida que falta algo à Pikitim. Para ter um Dia Mundial da Criança perfeito, a culminar os meses fantásticos que temos passado em conjunto, faltou que se abeirasse de nós um pequeno autocarro com os seus principais tesouros: os seus amigos. É quase sempre dos amigos de Portugal que ela se lembra quando encontra algo que a entusiasma ou conhece um sítio que a surpreende. E pensa logo em escrever cartas, mandar postais ou, mais comum, fazer desenhos para partilhar com todos eles. Ela gostaria de ter os amigos por perto – é disso que sente falta. Porque uma criança precisa de outras para ser criança. Ontem e todos os dias.”
Excerto:
“Acreditas que as viagens podem ser preponderantes da formação dos indivíduos? Uma pessoa é diferente pelo facto de ter viajado?
RDevia ser, mas tem que estar predisposto para a mudança, para o enriquecimento. Se sair de casa com certezas, dogmas e preconceitos cimentados, não há viagem que consiga formar ninguém. Da mesma forma, se estás predisposto para a mudança podes nunca sair de casa e conseguir essa formação, que eu chamaria cidadania, de uma forma completamente sedentária. Através da leitura, da educação musical, da participação em um projecto solidário, etc… Se olhares para o panorama actual das viagens, tornou-se tão fácil viajar, que já ninguém sente que está a passar por uma experiência radical, exclusiva, de crescimento e formação. É tudo imediato, fácil, e de consumo massificado. Até a Mongólia já entrou no circuito do turista de Agosto.”
Podem ler a entrevista integral aqui.
O tipo é um bocado parvo, mas pela vista e para matar saudades vale a pena.