A disciplina de Português é um crime contra o Futuro

Por Luís Osório.

 

Estudar Português com os meus filhos é uma viagem ao inferno. Faço por disfarçá-lo. Talvez por achar que as dúvidas acabarão por prejudicá-los ainda mais do que a conta a pagar.

 Mas cá para nós. Para os que acreditam que o pensamento deve alargar-se com especulação, sonho, dúvidas. Para os que julgam ser a escrita a melhor ferramenta para se compreender e viajar pela língua que deveríamos defender como soldados de um exército do pensamento. Para os que lêem romances, biografias e ensaios. Para os que escrevem e pensam. Cá para nós, a forma como se ensina Português nas escolas é um crime. Um escândalo. Uma forma, como diz um amigo professor, de criar amputados mentais.

Porque os miúdos não aprendem a ler e escrever. Os miúdos aprendem apenas, e de um modo rápido, a detestar a disciplina e a afastarem-se, para todo o sempre, da leitura e da escrita.

Na disciplina de Português não se viaja pelo pensamento. Atraca-se num lodo de gramática, campo árido para burocratas da língua que são o prolongamento de tudo o resto. Infelizmente, estudar o que deveria ser o centro do que somos, a nossa identidade, faz-me lembrar os dias em que era obrigado a tomar óleo de fígado de bacalhau.”

Pelo que vou acompanhando dos meus alunos e o gosto pela disciplina é muito isto, gramática gramática e gramática, não aquela que nós estudamos, uma nova em que os complementos têm nomes diferentes e os advérbios são aos milhares, os pais vêm-se gregos com esta nova nomenclatura e sentem-se impotentes para ajudar os filhos.

Quem me ensinou a gostar de ler foram os meus pais, não há dúvidas quanto a isso, encheram-me a casa de livros, mas foram as minhas professoras de português que me expandiram os horizontes, que me fomentaram a escrita, que me ensinaram e mostraram o que estava para lá do programa. Tenho muita pena que os meus alunos hoje em dia detestem com tanta veemência a disciplina e o seu conteúdo, mas quando olho para os manuais percebo-os perfeitamente é difícil apaixonarmo-nos por regras, mas é tão fácil viciarmo-nos no Alexandre O’Neil, no Vergilio Ferreira, no Eça, no Júlio Dinis e tantos outros…

 

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