Ticha Penicheiro


Chegou a altura de homenagear alguém da minha geração, Ticha Penicheiro, que para além disso, é ainda minha conterrânea, pareceu-me a pessoa ideal para homenagear.
Sendo portuguesa conquista o sonho de todos os meninos e meninas que jogam ou jogaram Basket, por todo o mundo.
Em 2005 conquistou o Campeonato da WNBA, já em 2006 ajudou uma equipa russa a ganhar a Taça da Europa, entre tantas outras taças e campeonatos que estão já no palmarés de Ticha Penicheiro.
Não vos vou massar com biografia da Ticha, porque conseguem-na encontrar facilmente, mesmo que procurem noutras linguas, que não o português ou o inglês, deixo-vos antes com algumas fotos desta “warrior” (segundo as palavras do treinador Sonny Allen).

Teresa Cascudo

Cabe a vez, a outra senhora que tive a sorte de ter como professora, desta feita de Teoria da Música e História da Música quer Ocidental quer em Portugal, outra grande mulher que se destaca num mundo maioritariamente de homens.

Teresa Cascudo (n. Figueres, 1968) es actualmente profesora de la licenciatura on-line en Historia y Ciencias de la Música, impartida desde 1999 en la Universidad de La Rioja. Se licenció en Filosofía y Letras en la Universidad de Zaragoza, habiendo cursado su diplomatura en Logroño, en el entonces Colegio Universitario de La Rioja. Concluyó el grado medio de piano en el Conservatorio Profesional de Música de Logroño. Fue becaria Erasmus en las Universidades de Lyon y Nantes, y del Ministerio de Asuntos Exteriores en la Universidade Nova de Lisboa. Es doctora en Ciencias Musicales (especialidad Ciencias Musicales Históricas) por la Facultad de Ciencias Sociales y Humanas de la Universidade Nova de Lisboa. Su tesis doctoral abordó las consecuencias que la idea de “tradición” tuvo en la obra musical y ensayística del compositor portugués Fernando Lopes-Graça (1906-1994).
Fue profesora de la licenciatura en Música de la Universidad de Évora y asesora del Departamento de Cultura del Ayuntamiento de Cascais, en cuyo Museu de la Música Portuguesa ha comisariado varias exposiciones documentales y donde organizó el archivo del compositor Fernando Lopes-Graça. Es autora del catálogo de su obra musical, publicado en 1997. Ha colaborado como crítica de música en el diario electrónico MundoClásico.com y en el periódico portugués de tirada nacional Público. Comisarió las exposiciones conmemorativas en homenaje de José Viana da Mota (1868-1948) y Frederico de Freitas (1902-1980) organizadas por el Museu da Música de Lisboa, museo nacional dependiente del Ministerio de Cultura portugués.
Forma parte de la dirección de la Associação Portuguesa de Ciências Musicais y es directora-adjunta de la Revista Portuguesa de Musicologia. Es investigadora del Centro de Estudios Interdisciplinares del Siglo XX (CEIS 20), de la Universidad de Coimbra (unidad de investigación homologada por el Ministerio de Estudios Superiores, Ciencia y Tecnología portugués), y está integrada en el grupo Corrientes Artísticas y Movimientos Intelectuales, coordinado por el Profesor António Pedro Pita.

Libros publicados:
A tradição musical na obra de Fernando Lopes-Graça. Um estudo no contexto português (Coimbra: Editorial Ariadne, publicación prevista en 2006).
(editora en colaboración con Ricardo Alves), Fernando Lopes-Graça e os presencistas, primer volumen de la edición de la correspondencia de Fernando Lopes-Graça (Cascais: Câmara Municipal de Cascais, publicación prevista en 2006).
(comisaria de la exposición y editora del catálogo con Helena Trindade) Frederico de Freitas (1902-1980) (Lisboa: Ministério da Cultura/Instituto Português de Museus, 2003).
(comisaria de la exposición y editora del catálogo con Helena Trindade) José Viana da Mota, cinquenta anos depois da sua morte 1948-1998 (Lisboa: Ministério da Cultura/Instituto Português de Museus, 1998)
Catálogo do espólio musical de Fernando Lopes-Graça (Cascais: Casa Verdades de Faria-Museu da Música Portuguesa/Câmara Municipal, 1997).
Cursos y congresos (recientes e inmediatos)
«Fernando Lopes-Graça, compositor e intelectual» (título provisional), Congreso Internacional “O Artista como Intelectual”, organizado por motivo del centenario del nacimiento de Fernando Lopes-Graça, Coimbra, abril 2006.
«La ópera en Lisboa entre dos siglos (XIX-XX): problemas de recepción y de construcción de identidad», curso en el Programa de Doctorado “Música, Texto y Representación”, Universidad de Salamanca, enero y marzo de 2006.
«A música dos salões em Lisboa como ’emblema de ideologia’ na mudança do século (ca. 1900)», II Colóquio Ibero-Americano “Tradição e Modernidade no Mundo Ibérico-Americano”, Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, Coimbra, noviembre de 2005.
«Paris em Lisboa: o salão musical da condessa de Proença-a-Velha entre 1899 e 1903», 13ª Encontro de Musicologia (Associação Portuguesa de Ciências Musicais), “Os Espaços da Música”, Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, octubre de 2005.
«À procura da música portuguesa: musicologia e nacionalismo em Portugal durante a primeira metade do século XX», X Forum for Iberian Studies, “Charting Transfers, Remapping Iberia”, Trinity College, Oxford, junio de 2005.
«Patronage and amateurism in the construction of an aristocratic, feminine and national identity: the case of Countesse of Proença-a-Velha in Portugal», 13th Biennial International Conference on Nineteenth Century Music, St. Chad’s College, University of Durham, agosto de 2004.
«25 de Abril em ópera: uma leitura de Os Dias Levantados, de António Pinho Vargas e Manuel Gusmão», Coloquio “O Dia Inteiro: 25 de Abril e depois (artes, artistas, intelectuais)”, Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, Coimbra, mayo de 2004.
Artículos publicados:
«Por amor do que é portugués: el nacionalismo integralista y el renacimiento de la música antigua portuguesa entre 1924 y 1934», en Juan José Carreras y Miguel Ángel Marín (eds.), Concierto barroco. Estudios sobre música, dramaturgia e historia cultural (Logroño: Universidad de La Rioja, 2004), pp. 303-324.
«À luz do presencismo: uma leitura da Introdução à música moderna (1942), de Fernando Lopes-Graça», Lecturas: revista da Biblioteca Nacional, 12-13, 2003, pp. 107-124.
«A música em Portugal entre 1870 e 1914», en Michel’Angelo Lambertini. 1862-1920, catálogo da exposição organizada pelo Museu da Música (Lisboa: Instituto Português de Museus / Museu da Música, 2002) pp. 61-71.
“A década da invenção de Portugal na música erudita (1890-1899)”, Revista Portuguesa de Musicologia, 10, 2000, pp. 181-226.
“Relações musicais luso-brasileiras em finais do século XIX”, Revista Camões, Outubro-Dezembro de 2000, pp. 136-141.
“Iberian Symphonism (1779-809): Some Queries”, en Malcolm Boyd and Juan José Carreras (eds.), Music in Spain During the XVIIIth Century (Cambridge University Press, 1998) pp. 144-156.
“Que fazer sem um Camões sinfonista? Fernando Lopes-Graça e o problema da tradição da música portuguesa”, Revista Portuguesa de Musicologia, 6-7 (1995-6) pp. 127-139.
“La formación de la orquestra de la Real Cámara en la corte madrileña de Carlos IV”, Artigrama, 8 (Zaragoza, 1998) pp. 79-98.
“El lenguaje de la música: variaciones sobre una metáfora sugerente”, Revista de Teoría Literaria, 10 (Alicante, 1997) pp. 461-481.
“Penélope musicóloga: musicología y feminismo entre 1974 y 1994” en Marisa Manchado (ed.), Música y mujeres (Madrid: Librería de Mujeres, 1997) pp. 179-190.
Comunicaciones publicadas:
«Wagnerismo y nacionalismo musical en Portugal: la influencia del musicógrafo de origen español Antonio Arroyo», en Mariano Lambea (ed.), Actas del VI Congreso de la Sociedad Española de Musicología, organizado en Oviedo en noviembre de 2004 (en prensa)
«Quimera vs. Razão: a musicologia portuguesa e a musica antiga durante a primeira metade do século XX», en António Pedro Pita y Luís Trindade (eds.), Transformações estruturais do campo cultural português (1900-1959), coloquio organizado por el Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS 20), Coimbra, octubre de 2004 (en prensa)
«The influence of Teófilo Braga in the creation of a `Portuguese national music’», en Anastasia Siopsi (ed.), International Conference Romanticism and Nationalism in Music, Ionian University, Corfu, 17-20 de octubre de 2003 (en prensa)
«Nacionalismo y música en Portugal a finales del siglo XIX», en Enrique Sacau (coord.), Actas del Primer Congreso Internacional de Musicología “La ópera y Vigo” (Vigo: Centro de Estudios Vigueses, 2004).
“Ser moderno en tiempos difíciles: Jesús Bal y Gay visto desde Portugal”, in Charo Ferreira e Inmaculada Pena (eds.), Xornadas sobre Bal y Gay, Santiago de Compostela (Santiago de Compostela: Xunta de Galicia, 2003).
«Fernando Lopes-Graça e os compositores brasileiros: a polémica ‘dodecafonismo vs. nacionalismo’ entre 1939 e 1954 numa perspectiva comparativa», em Manuela Tavares Ribeiro (ed.), Portugal-Brasil: Uma visão Interdisciplinar do Século XX Universidade de Coimbra, 2-5 de Abril de 2003 (Coimbra, Quarteto, 2003).
“Fernando Lopes-Graça, o músico do neo-realismo português”, in Júlio Graça (ed.), Encontro Neo-Realismo, reflexões sobre um movimento, perspectivas para um museu (Vila Franca de Xira: Câmara Municipal, 1999).
“Brasil como espelho, Brasil como argumento, Brasil como tópico: as relações de Fernando Lopes-Graça com a cultura portuguesa” in António Bispo (coord.), Brasil-Europa 500 anos: música e visões (Actas do congresso internacional celebrado em Colónia, em Setembro de 1999) (Colonia: Academia Brasil-Europa, 2000) pp. 258-272.

Ana Ester Neves

A senhora que decidi homenagear hoje, é definitavamente uma grande senhora, de todas as que homenageei até hoje, é a que me está mais próxima e por quem sinto uma admiração sem limites.
Esta senhora foi a minha professora de Canto de uma forma jamais atingida por outra, é a minha fonte de inspiração, com quem aprendi metodos de trabalho mas também lições de vida. Com uma força de vontade inigualável, um amor à arte e à vida fora do comum.
Tenho noção que para quem não a conheça, possa parecer demasiado, mas foi a minha professora de Canto. O lugar que ocupa dentro de mim, jamais será ocupado por outra. E isto só quem me conhece bem consegue compreender.
Por isso faço uma vénia para dar lugar à biografia de Ana Ester Neves, e se Miguel Sousa Tavares disse “Ninguém deve morrer sem ter ido pelo menos uma vez ao deserto!”, eu digo-vos: – Ninguém deve morrer sem ter visto Ana Ester Neves em cima de palco!
Reconhecida intérprete de música de câmara, a soprano Ana Ester Neves conta também com uma sólida carreira operática, em Portugal e no resto da Europa. Tem dedicado parte significativa da sua carreira à música contemporânea, com especial destaque para a música portuguesa, tendo estreado óperas de António Pinho Vargas, de Alexandre Delgado e de Theodore Antoniou.
Diplomada pelo Conservatório Nacional de Lisboa, continuou os seus estudos na Royal Academy of Music (Londres) e na Universidade de Boston, onde concluiu o Mestrado em Interpretação. Reconhecida intérprete de música de câmara, tem exercido uma actividade intensa quer em Portugal, quer na Inglaterra, Áustria, Alemanha, Itália, Grécia, Espanha, França e EUA. Nestes paises apresentou-se também nas óperas: Carmen (Micaela), A Traviata (Violetta), As Bodas de Fígaro (Contessa), Eugene Onegin (Tatyana), La Bohème (Musetta), Le Rossignol, L’Isola Disabitata, Porgy and Bess (Bess), D.Giovanni (D. Elvira), The English Cat, Parsifal, Boris Godunov (Xenya), Albert Herring (Lady Billows), Neues vom Tage (Laura) entre outras.
Dedica parte da sua carreira à divulgação da música portuguesa, tendo-a apresentado em recitais em Paris, Madrid, Londres e Turim.
A música contemporânea também tem tido um papel de destaque na sua carreira. Estreou a ópera The Bacchae (Agave) de Theodore Antoniou em Atenas e as óperas portuguesas O Doido e a Morte (D.Aninhas) de Alexandre Delgado, Édipo, ou a Tragédia do Saber (Jocasta) e Os Dias Levantados (O Anjo Camponês) de António Pinho Vargas.
Destacam-se as suas interpretações da 14ª Sinfonia de Chostakovitch, de Les Illuminations de B. Britten, e das Szenen aus Goethes Faust de R.Schumann.
No domínio da oratória destacam-se as suas participações em: Requiem de Mozart, com a Orquestra e o Coro Gulbenkian (Coliseu dos Recreios); Requiem de Brahms (Londres); Cantatas e Weihnachtsoratorium de Johann Sebastian Bach (Lisboa e Londres); e na estreia mundial do Requiem para o Planeta Terra de João Pedro Oliveira.
Ganhou os prémios operáticos Gilbert Betjemann e Ricordi e obteve os primeiros prémios nos Concursos Internacionais de Canto Mary Garden (Inglaterra) e Luisa Todi (Portugal).
Gravou a Sinfonia nº6 de Joly Braga Santos para a Marco Polo e Os Dias Levantados de António Pinho Vargas para a EMI-Classics. Gravou também para a RTP, RDP e BBC.
É membro fundador do Trio Vissi d’Arte e é membro do Grupo de Música Contemporânea de Lisboa.
No campo da Pedagogia foi Professora Assistente da Disciplina de Canto na Universidade de Boston, leccionou Canto no Conservatório Regional do Algarve e na Universidade de Évora e Técnicas e Expressão Vocal na Escola Profissional de Teatro de Cascais. É convidada frequentemente para leccionar masterclasses de Canto nas Universidades e Conservatórios Portugueses. Tem realizado várias Acções de Formação sobre Técnica Vocal para Professores e para Locutores da Rádio e Televisão.

Primavera

Foto: Mastrangelo Reino

Batem as ondas do mar suavemente na areia ondulada da praia…

As flores desabrocham levemente nos prados…

Os pássaros, que ainda não estão constipados, chilreiam alegremente por entre voos de corte…

Chegou a Primavera…por entre a água que S. Pedro nos teima em atirar….

Fica aqui o registro!

Leonor Beleza

Continuando as homenagens a grandes mulheres da nossa sociedade, aqui fica uma singela homenagem a Leonor Beleza, o texto é composto por excertos de uma entrevista que deu à revista Máxima há algum tempo.
Uma carreira política toda a vida, porquê?
Quando era estudante, andava num meio onde se falava muito de política. A primeira coisa em que me envolvi foi na SEDES, em 1971. Era miúda, estava no fim do curso, tinha 21 anos. A SEDES, sem ser das oposições declaradas, era o meio onde se discutiam ideias. Eu fazia parte de um grupo de alunos, entre eles o Marcelo [Rebelo de Sousa], que tinha reuniões e ligação com alguns deputados da ala liberal, como o José Pedro Pinto Leite. Vivemos a morte dele como uma possibilidade da Ala Liberal. Só depois emergiu Sá Carneiro. No 25 de Abril, entrei no PPD. Estava na SEDES quando Sá Carneiro entrou a dizer que ia fazer um partido.
Que memórias tem da Faculdade de Direito?
Houve uma evocação da professora Isabel Maria Magalhães Colaço. Falei dessas memórias da Faculdade. A política era um entusiasmo para a nossa idade. Era a história das mulheres, que já me interessava antes, o que era na lei, as discriminações que havia. Formei-me quando a lei me impedia de ser juíza e diplomata. Agora, nos Estados Unidos, contei isso. Além das histórias políticas que vivi com a professora Magalhães Colaço, fiz parte da Comissão de Revisão do Código Civil, de que ela era Presidente. A Constituição de 1976 estabeleceu regras de igualdade que naturalmente punham em causa leis que estavam em vigor no Direito da Família. E em uma parte do Direito das Sucessões. Com vinte e tal anos participei nessa reforma legislativa. Na época, o nosso Direito Civil ficou um Direito não só moderno mas de vanguarda. Fizemos a reforma com dados exaustivos. Foi um trabalho técnico, feito numa época em que nem sempre se cumpriam horas nem prazos, mas nós cumpríamos. Num prazo muito curto, fez-se uma reforma muito exigente e técnica, sobretudo no direito da filiação, o que obrigou a muitos estudos, a muitos fins-de-semana de trabalho. Isso deve-se à personalidade dela. Lembro-me do vestido que eu tinha no dia em que estava à porta do exame de [Direito Internacional] Privado. Ela infundia terror às pessoas. Depois, o exame correu muito bem. Ela ajudou-me muito, várias vezes. Quando morreu, tínhamos um almoço aprazado.
Como se passou a sua infância? Os estudos?
Somos cinco irmãos. Os pais são do Norte. A mãe é do Porto, o pai da Póvoa. O meu avô paterno era professor da Faculdade de Direito em Coimbra. A minha mãe vivia no Porto e veio estudar para Coimbra, todas as três irmãs iam estudar para fora do sítio onde estavam. Os meus pais foram colegas no curso de Direito em Coimbra, ambos foram bons alunos. Nasci no Porto, vivi em Coimbra até aos nove anos. Tínhamos uma casa com jardim, meteram-nos em Lisboa num andar, foi complicado. Portávamo-nos mal, fazíamos barulho aos vizinhos. Estudar e fazer as coisas de uma maneira exigente era normal lá em casa. Para nós as três, era normal fazer um curso superior. Temos todas muito orgulho por a nossa bisavó ter sido médica. O meu trisavô teve quatro filhas formadas: três médicas e uma engenheira. A exigência com que éramos tratados fazia com que nenhum de nós achasse uma habilidade ter notas boas. Era um ambiente muito normal. A minha mãe achava que nos devíamos deitar cedo e fazer os estudos a horas normais. Fazia-nos visitas nocturnas de lanterna, não achávamos graça nenhuma, nós de luz acesa, a chegada dela não era nada agradável.
Como concilia a carreira política com a vida pessoal?
Isso é como todas as mulheres que têm uma vida de trabalho e familiar. Todos os domínios são importantes. Temos ansiedade de os conciliar. As mulheres vivem de uma maneira difícil a conciliação entre o trabalho e a família. Quando saí do Ministério da Saúde, lembro-me de supervisionar com mais atenção os banhos do meu filho.
Como vê a pouca participação das mulheres na nossa realidade?
Em Portugal, conseguimos fazer um percurso notável nos últimos 30 anos. Temos acesso à educação, ao emprego, ao controlo de fertilidade, à saúde. Mas há uma zona de intervenção política onde as coisas se mexem lentamente. As pessoas facilmente aceitam que a mulher esteja em qualquer lado, mas ainda não demos o passo da exigência de maior participação das mulheres. Há situações de recuos. Há as pessoas que acham normal que sejam só homens a desempenhar cargos. Ainda ontem, duas listas votadas para um órgão na Assembleia da República só ti-nham homens. Não há uma atitude, uma reacção contra isso, as pessoas não pensam antes das votações. Nas cerimónias do 10 de Junho passado, o palco tinha só homens e eu. Porque o Presidente da Assembleia da República não pôde ir. Também na iniciativa dos empresários [Compromisso Portugal], a fotografia publicada nos jornais era só de homens, aquele era o retrato do país que não é moderno. Na política, é desastroso o que se passa. A primeira diversificação necessária é entre homens e mulheres. Um dos problemas para as mu-lheres é a irregularidade dos horários. Das 8 às 10 horas poucas coisas acontecem. Esta Casa só começa a funcionar às horas a que fecham os infantários. Muitas coisas são resolvidas nos ambientes informais, em circunstâncias inacessíveis às mulheres. Há uma reunião, os homens vão todos jantar ou vão para o café, e aí decidem o que é importante. Com muitas mulheres nos sítios de decisão as coisas alteram-se.
Acredita que esta situação vá mudar?
A situação (20 por cento de deputadas mulheres) resolve-se com quotas de mulheres na Assembleia da República. No princípio era contra as quotas. Recentemente, em colegas minhas mais novas vejo que não há adesão intelectual, há simpatia, mas percebe-se que se admitem quotas. Porque as quotas funcionam noutras coisas. Funcionam para grupos diferentes dentro dos partidos, e há quotas informais nas mais variadas áreas: equilíbrio territorial, equilíbrio de grupos ou de sensibilidades dentro dos partidos, inclusão de jovens. Todos os países democráticos sabem que com ou sem quotas não pode haver listas se o poder for exercido sem mulheres. Todos os mecanismos de conservação do poder funcionam, são eles que lá estão. E elas não participam nestes mecanismos informais.

Tem um desejo para o tempo presente?
Estamos numa fase difícil. Há uma falta muito grande de líderes para estas coisas. Toda a Europa precisa de grandes líderes. Tenho sempre esperança de que melhorem. Em 1985, quando da assinatura da adesão de Portugal às Comunidades Europeias, estavam Thatcher, Mitterrand, Kohl, era um escol de líderes. Faltam nomes que fiquem na História e façam hoje as coisas evoluírem. Nomes que dêem orientação, que definam valores, que consigam construir o mundo pós-guerra fazendo a paz. “

Texto:Leonor Xavier
Fotografia: Pedro Ferreira

Ebbe Merete Seidenfaden (1941-1980)

Ebbe Merete Seidenfaden era o seu verdadeiro nome, mas entrou nas nossas vidas pelo nome de Snu Abecassis, fez parte de uma das mais bonitas histórias de amor do Portugal do século XX.
Presto aqui a minha homenagem a essa grande senhora que foi Snu Abecassis.
Faço-o não pelas minhas palavras, mas pelas palavras da sua grande amiga Natália Correia:

“Um astro fugitivo te enleou

No que é dado à paixão cumprir-se em morte;

E algo espantosamente te levou

Cioso do que é frágil no mais forte.

Ó fúria de seres morto prematuro,

Sobre o abismo, extremamente vivo,

Jogando às cartas com o anjo escuro

A luz do teu relâmpago persuasivo.

Tinhas fome de quê? de quem? de Deus?

De amor seria, pois furacão de flores,

Passaste, atirando aos fariseus,

O escândalo gentil dos teus amores… “

Natália Correia, in Recordando o Amante Francisco Sá-Carneiro Em Memoria da Minha Amiga Snu, Junho de 1984.

Manuela Ferreira Leite

Na tentativa de homenagear pessoas vivas, vou começar a homenagear as minhas “idolos” nacionais, sendo que a primeira é normalmente uma pessoa polémica, mas posso dizer que é a mulher que mais admiro politicamente, gosto do seu carácter forte e decidido, e embora em tempos tenha sido contra algumas das suas ideias, como por exemplo a PGA (Prova Geral de Acesso), hoje em dia penso que foi uma idiotice ter acabado com ela (estando eu entre os idiotas que a contestaram).

Aqui fica a minha mais sentida homenagem a uma grande mulher: Manuela Ferreira Leite

Maria Manuela Dias Ferreira Leite, governante e parlamentar portuguesa, é filha de Carlos Eugénio Dias Ferreira e de Julieta de Carvalho e nasceu em Lisboa a 3 de Dezembro de 1940.
Licenciou-se em 1963 em Economia pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras com a média final de 16 valores. Obteve os prémios “ex-aequo” concedidos ao “aluno mais distinto do curso”, ao “aluno mais classificado do curso de Economia” e ao “aluno mais classificado na cadeira de Política Ultramarina”.
Iniciou o percurso governativo em
1990 como Secretária de Estado do Orçamento até 1991 seguindo-se o cargo de Secretária de Estado Adjunta e do Orçamento de onde cessou funções em 1993 para assumir a pasta da Educação, onde, como Ministra, mostrou firmeza em relação aos estudantes, faceta pela qual viria a ser sempre conhecida. Exonerou funções em 1995 quando o Partido Social Democrata (PSD) perdeu as eleições para o Partido Socialista (PS). Regressou à vida parlamentar, a qual já tinha suspendido entre 1991 e 1995 para assumir funções no Executivo. Durante o período de 1995 a 1999 presidiu à Comissão Parlamentar de Economia, Finanças e Plano da Assembleia da República. Em 2002, e após a vitória do PSD nas eleições legislativas antecipadas por força da demissão do anterior Primeiro-Ministro, António Guterres, regressa ao Governo chefiado por Durão Barroso onde encontra uma situação orçamental grave e dá a cara a uma série de decisões impopulares e pela sua competência e firmeza adquire a alcunha, numa alusão a Margaret Thatcher, de Dama de Ferro. Manteve-se no Governo até 2004, altura em que Durão Barroso pede a demissão para presidir à Comissão Europeia. Não concordando com a nova liderança do Partido e Primeiro-Ministro, Pedro Santana Lopes, afasta-se da vida política activa e regressa ao cargo no Banco de Portugal.

Brites de Almeida – A Padeira de Aljubarrota

“A Padeira de Aljubarrota”
“Brites de Almeida não foi uma mulher vulgar. Era feia, grande, com os cabelos crespos e muito, muito forte. Não se enquadrava nos típicos padrões femininos e tinha um comportamento masculino, o que se reflectiu nas profissões que teve ao longo da vida. Nasceu em Faro, de família pobre e humilde e em criança preferia mais vagabundear e andar à pancada que ajudar os pais na taberna de donde estes tiravam o sustento diário. Aos vinte anos ficou órfã, vendeu os poucos bens que herdou e meteu-se ao caminho, andando de lugar em lugar e convivendo com todo o tipo de gente. Aprendeu a manejar a espada e o pau com tal mestria que depressa alcançou fama de valente. Apesar da sua temível reputação houve um soldado que, encantado com as suas proezas, a procurou e lhe propôs casamento. Ela, que não estava interessada em perder a sua independência, impôs-lhe a condição de lutarem antes do casamento. Como resultado, o soldado ficou ferido de morte e Brites fugiu de barco para Castela com medo da justiça. Mas o destino quis que o barco fosse capturado por piratas mouros e Brites foi vendida como escrava. Com a ajuda de dois outros escravos portugueses conseguiu fugir para Portugal numa embarcação que, apanhada por uma tempestade, veio dar à praia da Ericeira. Procurada ainda pela justiça, Brites cortou os cabelos, disfarçou-se de homem e tornou-se almocreve. Um dia, cansada daquela vida, aceitou o trabalho de padeira em Aljubarrota e casou-se com um honesto lavrador…, provavelmente tão forte quanto ela.
O dia 14 de Agosto de 1385 amanheceu com os primeiros clamores da batalha de Aljubarrota e Brites não conseguiu resistir ao apelo da sua natureza. Pegou na primeira arma que achou e juntou-se ao exército português que naquele dia derrotou o invasor castelhano. Chegando a casa cansada mas satisfeita, despertou-a um estranho ruído: dentro do forno estavam sete castelhanos escondidos. Brites pegou na sua pá de padeira e matou-os logo ali. Tomada de zelo nacionalista, liderou um grupo de mulheres que perseguiram os fugitivos castelhanos que ainda se escondiam pelas redondezas. Conta a história que Brites acabou os seus dias em paz junto do seu lavrador mas a memória dos seus feitos heróicos ficou para sempre como símbolo da independência de Portugal. A pá foi religiosamente guardada como estandarte de Aljubarrota por muitos séculos, fazendo parte da procissão do 14 de Agosto.”
In “Lendas de Portugal”- Lendas do Distrito de Leiria

Maria de Magdala


A primeira mulher a ser homenageada, neste mês dedicado a grandes mulheres é Maria de Magdala, ou Maria Madalena como é mais conhecida, é a primeira porque dois mil anos depois continua a ser despontar polémicas e só uma grande mulher consegue este feito.
É também a primeira por ter sido a mais injustiçada, é a primeira porque é um simbolo do feminino, é a primeira porque foi a escolhida por Cristo e lá diz o ditado : “Por trás de um grande homem está uma grande mulher”, existem vários motivos para ser a primeira, nem todos conseguem ser transcritos para texto.
“Maria Madalena, que significa, provavelmente, “Maria de Magdala,” uma localidade na costa ocidental do Lago de Tiberíades, é referida nos evangelhos (canónicos e apócrifos) como sendo uma seguidora de Jesus Cristo. Nada se sabe sobre ela, para além do que aparece nestes evangelhos. É festejada no dia 22 de Julho.

A tradição, sem qualquer fundamento bíblico, considera-a, muitas vezes, como a prostituta que, vivendo à mercê dos homens, pede perdão pelos seus pecados a Cristo. Este episódio é frequentemente identificado com o excerto do Evangelho de Lucas 7:36-50, ainda que aí não seja referido o nome da mulher em causa.

Alguns escritores contemporâneos, principalmente os autores do livro de 1982, que em Portugal se intitulou O Sangue de Cristo e o Santo Graal,(Holy Blood, Holy Grail) e Dan Brown no romance O Código Da Vinci (2003), defendem que:
Maria Madalena era, de facto, mulher de Jesus Cristo, e que esse facto foi escondido por revisionistas cristãos paulinos que teriam alterado os evangelhos.
Estes escritores basearam-se nos evangelhos, canónicos e apócrifos, além de escrituras gnósticas para fundamentarem as suas conclusões. Ainda que o Evangelho de Filipe designe Maria Madalena como “companheira de Cristo”, o que parece indicar que fosse especialmente próxima de Jesus, não há nenhum documento antigo que refira abertamente que ela fosse sua esposa.
Um argumento a favor desta especulação refere-se ao facto de que o celibato era muito raro entre os judeus homens, da época de Jesus, sendo considerado, mesmo, como uma transgressão ao primeiro mitzvah (mandamento divino)— “Sede fecundos e multiplicai-vos”. Isso seria considerado impensável para um adulto, ainda mais quando viajava pela Judeia pregando como rabi.
Pode-se, contudo, usar o contra-argumento de que haveria uma grande diversidade de correntes religiosas dentro do judaísmo, além de que o papel de rabi ainda não estava bem definido. João Baptista e os essénios eram celibatários. Paulo de Tarso era-o também, quando ainda se julgava que o cristianismo deveria ser uma religião destinada apenas ao povo judeu. Na verdade, só depois da destruição do Segundo Templo no ano 70 d. C. que o judaísmo rabínico se tornou a corrente dominante entre as comunidades judaicas.
Maria de Magdala é, sem dúvida, uma das presenças femininas de maior destaque nos evangelhos. A sua presença na crucificação de Jesus, ainda que de modo algum conclusiva, é, contudo, consonante com o papel de esposa em sofrimento e viúva desconsolada, ainda que fosse de esperar que Jesus a encomendasse a alguém, como fez a sua mãe (contra-argumento que poderá ser posto em causa se fizermos outra interpretação das palavras de Cristo durante a última ceia). Dada a falta de provas escritas, dessa época, ainda que muita gente goste de considerar a hipótese ou a defenda acerrimamente, a maior parte dos académicos não a leva a sério.
Tornou-se célebre, com a divulgação do livro já referido de Dan Brown, o argumento de que n’A Última Ceia, de Leonardo da Vinci, a personagem que está à sua direita, com traços femininos, seja Maria Madalena e não João, como outros defendem. O facto de Jesus não envergar nenhum cálice (o Graal) poderá levar a interpretações que muitos consideram abusivas, como acreditar que Maria Madalena é, de facto, o “cálice sagrado” onde repousa o “sangue de Cristo” ou seja, que ela estaria, na altura, grávida de Jesus.”

in “Wikipédia”

Digam o que quiserem o que é facto é que Cristo quando reencarnou a primeira pessoa a quem apareceu foi a Maria de Magdala, não foi à mãe nem tão pouco aos Apostolos, e isso no meu entender tem um grande significado.

Pena que o rumo da história tenha sido alterado, porque a nossa sociedade hoje seria bem diferente, muito melhor no meu entender.

O começo de uma nova temática

Foto: Alberto M.
Como o Dia Internacional da Mulher é comemorado dia 8 de Março, o Entre Mares e Planuras vai dedicar todo o mês à mulher, nomeadamente a mulheres que se distinguiram pelo seu carácter ou pelo seu pensamento inovador .
Aproveitem este espaço para homenagear as mulheres, que no vosso entender sejam dignas dessa homenagem, sejam elas, a vossa vizinha do lado, a senhora que vos lava a escada, a Margaret Thatcher ou a Madre Teresa de Calcutá…homenageiem mulheres que vos inspiram.
Ou então, enviem um email para entremareseplanuras@gmail.com, com o nome ou história da/das mulher/mulheres que desejam ver homenageadas.